Capítulo Completo

Bjks e até mais!

18 . A Lenda dos Dois Lobos

Jacob

As palavras de Edward caíram sobre mim como uma bomba, eu simplesmente não tinha ideia de como traria Renesmee de volta. Meu filho era um ser especial e despertava em mim um amor que eu não era capaz de dimensionar, todos a minha volta me observavam esperando uma resposta que eu não verbalizei.

Olhei para Adan dormindo em meus braços, tranquilo e inocente, lembrei de quando era criança e dos ensinamentos de meu pai. Quando minha mãe partiu eu ainda era muito novo e ouvi uma conversa entre Billy e Charlie, e algo que meu pai disse na época dançava em minha mente de forma insistente…

-Estou em pedaços meu amigo, meu coração partiu junto com aquela mulher, a única que amei em toda a minha vida.

– Sinto muito mesmo Billy, mas o Jake ainda é tão pequeno, como fará agora sem a presença da mãe?

– Não vai ser fácil, mas prometo que serei o melhor pai, estarei junto dele em todos os momentos e tudo o que meu pai me ensinou o ensinarei com a ajuda da natureza.

Ouvi por acaso esta conversa e naquele momento não entendi muito bem o que ele quis dizer, hoje, porém, não teria algo mais sábio que meu pai pudesse me transmitir.

Olhei para todos a minha volta e sem nada dizer segui com Adan em meus braços rumo a floresta que cercava a casa, ninguém nos seguiu e de certa forma foi um pedido que fiz com meu olhar, esse seria um momento meu e de meu filho.

Como de costume desde que cheguei a esta ilha, tudo a nossa volta reagia, a ilha inteira emanava energia e era muito mais notório agora que Adan estava comigo, sua conexão com a natureza era impressionante, o mais incrível é que mesmo o meu povo tendo magia no sangue, nunca nenhum de nós teve tanta conexão com a natureza como meu filho e a ironia disso tudo é que ele é fruto da união de um Quileute com uma meia vampira. Se dissessem a Efrain Black que seu neto Jacob se casaria com uma meia vampira, provavelmente quem levantou tal hipótese absurda seria expulso de nossa tribo! Quanta ironia, o destino nos prega cada peça!

Não há como negar que o pequeno fruto do meu amor com Nessie de pequeno só tem o tamanho, pois é um ser extraordinário, de força e poderes incomparáveis. Maior que seus poderes somente seu amor por seus pais, mesmo dentro de sua mãe já a protegia e continua a fazê-lo agora, seu amor por mim também é notório pela maneira como dorme docemente em meus braços e de certa forma estamos conectados. Preciso fazer com que essa conexão se estabeleça ainda mais e como um Quileute herdeiro de Efrain Black o poder do Alpha seja manifestado.

Billy prometeu que faria o melhor por mim, e assim o fez, como qualquer adolescente eu tive meus momentos de rebeldia, me achei o dono da verdade por um certo período.

Por ser herdeiro do chefe, me achei melhor que os outro e não deixava que nenhum dos outros meninos rebatesse minhas decisões, não estava indo por um bom caminho, me tornei arrogante, o tipo de pessoa que ninguém gostava de estar perto, foi um pouco antes de Bella vir morar em Forks que a gota d’água de meus atos chamou atenção de meu pai para o caminho que eu estava escolhendo.

Quil, Embry e eu fomos a cidade para ver como andavam os “caras pálidas”.

Estava ocorrendo um festival em Forks e tinhas muitos jovens das cidades vizinhas, a cidade estava apinhada de estranhos, muitas garotas bonitas e os rapazes logo se animaram com a possibilidade de sair com alguma delas, não havia nada de errado nisso, a não ser pelo fato de que Embry se interessou por uma loirinha que se chamava Megan, muito bonita, mas algo nela não me cheirava bem.

Em meio a festa Megan nos convidou para ir a um lugar mais reservado onde segundo ela tinha mais duas amigas a sua espera, os caras me olharam a procura de aprovação e não tive como dizer não, seguimos Megan até o local indicado, e lá encontramos cinco caras mal encarados, que a cumprimentaram com certa intimidade, não gostei de ver isso, algo em mim dizia para dar o fora dali o quanto antes, mas o orgulho falou mais forte e resolvi encarar pra ver no que dava.

– Megan amor, meus parabéns, sempre faz seu trabalho muito bem querida! – falou um cara alto e forte, enquanto a pegava pela cintura e beijava-a possessivamente. Parecia ser o líder daquele grupo. Embry embriagado de ódio com aquela cena ameaçou ir pra cima do cara, mas o contive a tempo.

– E então rapazes, o que vão querer? – Perguntou-nos o magricela que estava ao lado do beijoqueiro.

– Do que está falando? – perguntei sério, sinalizando para Quil e Embry que não se metessem.

– Qual é cara? Vai queimar “um”, Vai de “Bala” ou seu negócio é “Pó”?

Antes que eu pudesse responder soou a conhecida sirene atrás de nós, fechei os olhos lamentando a decisão de seguir aquela garota e não confiar em meu instinto que dizia que ela era roubada desde de o início.

Os cinco caras e a garota foram presos em flagrante por traficar drogas. Embry, Quil e eu, fomos levados e Charlie ligou pra Billy para que nos liberasse. Eu já sabia que ouviríamos sermões por um mês inteirinho e já preparava meus ânimos para isso, mas ao contrário do que pensei, e sem dúvidas eu teria preferido os sermões, Billy foi nos buscar e quando chegou dirigiu a mim o olhar que guardo em minha mente até hoje. Um olhar de desgosto, decepção e acima de tudo de culpa. Não falou nenhuma palavra até chegarmos a reserva, deixou Embry e Quil em suas casas e seguiu comigo floresta a dentro ainda sem nada dizer.

Estava escuro a noite já avançada, mas aquele caminho me era familiar, o silêncio e o olhar do meu pai partiam meu coração como faca quente sobre manteiga, mas também nada falei, deixei que nos guiasse até onde ele queria e quando chegamos meu coração ficara ainda mais despedaçado.

Billy me levou ao túmulo de minha mãe, apontou um tronco próximo e sinalizou para que me sentasse, assim o fiz sem retrucar. Observei-o enquanto colhia gravetos e folhas exatamente em frente ao túmulo acendeu a fogueira, ajoelhou-se próximo a fogueira.

– Minha querida, aqui está seu filho, prometi que seria o melhor pai para ele, mas hoje venho pedir-lhe perdão pois falhei. – ouvir meu pai proferir aquelas palavras era inconcebível para mim, quanto desgosto eu provocara para a pessoa que eu mais amava – Falhei meu amor, mas a partir de hoje, não permitirei mais falhas, nosso filho será um homem de bem, um guerreiro que te fará uma mãe orgulhosa. Prometo aqui, diante do fogo e diante de ti.

Billy levantou-se e olhou para mim, pensei ter chegado a hora de falar, mas ele levantou a mão me advertindo, sentou-se ao meu lado no tronco e disse:

– Jacob, não precisa me dizer nada, peço apena que me escute, sei que tenho te negligenciado e isso não irá mais acontecer. De hoje em diante tem em mim um amigo, todas as suas dúvidas e medos poderás dividir comigo e o ajudarei a vencê-los.

– Sim pai, nunca mais o decepcionarei – disse sinceramente.

– Vou te contar a história que a muito tempo seu avô me contou e gostaria que prestasse muita atenção. – concordei quase que reverentemente, meu avô Efrain Black fora um dos maiores chefes que nossa tribo já teve e sempre que tocava em suas memórias meu pai se transformava em um ser quase mágico, era como se o poder do meu avô se manifestasse através dele. – Certa vez seu avô me contou sobre a Lenda dos Dois Lobos

Ele disse: 

-Meu filho, dentro de todos nós existem dois lobos. E eles travam uma batalha entre si. Um é o Mau. É a raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, orgulho falso e superioridade.

O outro é Bom. É alegria, paz, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé.

Pensei  naquilo por alguns minutos e perguntei:

-Qual dos lobos vence? 

O meu pai respondeu:

-Aquele que você alimentar.

Sem mais nada dizer Billy apagou a fogueira e nos conduziu de volta à casa. Aquela história ficou na minha mente por dias e eu soube que precisava mudar de atitude, deixar o orgulho de lado se um dia quisesse ser metade do chefe que meu avô foi.

É claro que depois de muito tempo, quando bateu a febre do lobo na aldeia eu já tinha deixado de lado essa vontade de ser chefe, queria apenas viver minha vida da forma mais normal possível, alimentando o lobo certo dentro de mim e nada mais.

Claro que nessa época eu acreditada que as histórias não passavam de meras lendas e metáforas até que eu me transformei no lobo e a partir de então nada mais de normal rondou a minha vida.

 E agradeço a cada dia por tudo isso, por que tudo o que fiz me trouxe até aqui e me presenteou com Adan.

******

Meu pai, antes sempre presente em minha vida, estava a quilômetros de distância de mim, seus sábios conselhos seriam bem vindos nesse momento, porém, duvido que ele tivesse um conselho relativo ao que estou vivendo agora.

Chegou a hora de eu sentir na pele o que é ser pai. Quem diria?! Pai Jacob!

Nunca pensei como seria ser pai antes, e agora sou pai dessa criança especial e cheia de talentos. Será que sou digno de tamanha responsabilidade? Com certeza não! Mas prometo que farei de tudo para ser o melhor pai desse mundo, e vou começar trazendo sua mãe de volta meu filho.

Adan estava me olhando com devoção e curiosidade, seus olhinhos cor de chocolate como os da mãe eram muito vivos e brilhantes, para um recém nascido ele era bem grande, não tinha o crescimento acelerado como o de sua mãe em sua idade, mas também não crescia na velocidade de um humano, com uma semana de nascido, tem o tamanho de um bebê de três meses, era esperto e muito atento, a pele branquinha e as bochechas rosadas se sobressaiam ainda mais emolduradas por seus cabelos negros como a noite mais escura, era um menino realmente lindo o nosso filho Ness. – um sorriso bobo brincava em meus lábios, tão espontâneo que me surpreendi ao percebê-lo.

A floresta estava tranquila, o vento soprava brando nas folhas das árvores, trazendo o aroma refrescante do mar em nossa direção, os animais ao redor estavam silenciosos, como se reverenciassem a força que cobria cada centímetro da ilha e o centro de todo esse poder estava em meus braços, me observando com seus olhinhos atentos e curiosos.

Não estávamos em La Push terra de meus ancestrais, a qual deu inicio a nossa magia, mas esta ilha é o único lar que Adan conhece e está claramente conectado a ela.

Quando Renesmee acordou da primeira vez após sua luta com Jane,me contou como havia se comunicado com Adan, ela descreveu claramente o antigo poder de nosso povo, o poder dos Guerreiros Espíritos, notei de imediato quando ela contava, mas não disse nada a respeito naquele momento. Bella e eu éramos os únicos da família que conheciam as histórias contadas no conselho, então Renesmee viveu realmente aquela experiência.

Apesar de estarmos longe da reserva, sei que poderei me comunicar com meu filho manifestando o poder espiritual dos antigos Quileuts, nas histórias que Billy contava no conselho, dizia que quando estava na forma de espirito os guerreiros conheciam os pensamentos uns dos outros e se comunicavam no mundo espiritual.

Sentado próximo à cachoeira no interior da floresta deitei Adan sobre a grama fresca, onde ele brincava animado e alheio aos problemas que enfrentamos, tão pequeno meu filho, tão dependente, deitado ali parecia uma criança como qualquer outra. Continuei preparando o lugar ao nosso redor, recolhi gravetos e posicionei-os para acender a fogueira, o Sol logo se esconderia, o céu acima de nós estava alaranjado, nos aproximávamos da hora do crepúsculo, segundo nossos antepassados era a hora em que nossa conexão com o mundo espiritual se tornava mais poderosa, me apressei em preparar tudo, a intimidade com a natureza devia ser total, todos os elementos deveriam estar presentes.

Escolhi uma pedra seca próxima da cachoeira e preparei a fogueira sobre ela e acendi-a, o momento era chegado, a hora do crepúsculo, onde o Sol se encontra com a Lua numa sintonia perfeita, a hora que o Grande Chefe Espírito Taha-Aki vem em auxílio de seus filhos Quileuts através da magia.

Despi-me e a meu filho, entrei com Adan nos braços nas águas da cachoeira, a água gelada nos envolveu arrepiando nossa pele. Senti meu filho se assustar com aquela sensação, apertei-o em meu peito para que se sentisse protegido e nossa conexão se estabeleceu mais intensa, saímos da água e sentamos na frente da fogueira.

Era chegada a hora, Terra, água, vento, fogo, Sol e Lua testemunhas do meu pedido. Ergui Adan em minhas mãos acima de minha cabeça, o fogo crepitando alto em suas labaredas selou o ritual de conexão com a natureza e a experiência que se seguiu foi a maior de toda a minha existência.

Estava na floresta, mas não era como antes, tudo estava mais vivo, eu podia enxergar muito além do que os meus olhos humanos viam antes, estavam ali, as árvores, os animais as rochas os rios, mas eu não via somente isso, podia ver a energia vital de cada um desses elementos e todos eles reagiam a minha presença. Me sentia leve e poderoso ao mesmo tempo, e no auge de minha euforia com todas aquelas sensações juntas, percebi que estava flutuando, de repente senti como se fosse cair e olhei para o chão angustiado, foi nessa hora que os vi. Nossos corpos ali imóveis, eu estava deitado próximo a fogueira que fiz e Adan sobre meu peito também quietinho e imóvel.

O ritual havia dado certo, mas onde estaria Adan? Nas histórias os Guerreiros espíritos compartilhavam seus pensamentos e não ouço nada além dos meus.

Será que tudo foi inútil? Será esse o final de minha história com Renesmee? Seria o mundo tão cruel e injusto conosco?

Eu Não Aceito!

Minha mente buscava desesperada por uma solução, essa era minha última esperança e tinha sido tudo em vão? E se era assim, onde estaria Adan?

Fechei os olhos e em meio ao desespero deixei meu coração agir.

“Adan, meu filho” – Clamei-o mentalmente – “Pode me ouvir?”

“Chamou por mim?” – uma voz ecoou em minha mente.

“Chamei por meu filho” – respondi intrigado.

De algum lugar de dentro da floresta eu sentia a energia do dono da voz, era uma voz grave, porém, suave, mas acima de tudo emanava segurança e autoridade. Era estranho o sentimento de familiaridade que me invadia, mas essa voz não poderia ser de Adan, ele era apenas um bebê.

“Ouvi meu nome sendo chamado” – falou. Estava atrás de mim agora, me virei para olhar e ali estava a forma espiritual de um rapaz de mais ou menos dezesseis anos, forte e muito bonito, quase tão alto quanto eu, não o teria reconhecido, não fosse pelos olhos.

Os olhos de Bella, os mesmos olhos de Renesmee.

Aquele jovem a minha frente em nada lembrava o pequenino bebê que era. A forma espiritual de meu filho, refletia todo o poder guardado num corpinho tão frágil de bebê.

A emoção me embargou e por um instante me perdi naquele momento de contemplação de meu filho, o orgulho de um pai diante de um ser tão especial e o peso da responsabilidade de cuidar dele.

“Adan?” – de algum modo tinha que ter certeza, pra que meu coração de pai não me pregasse nenhuma peça.

“Sou eu, por que me chamas? Espera! Você me chamou de filho! Jacob?”

“Sabe quem sou?”

“Claro! Como não conheceria meu pai? O vi tantas vezes pelos olhos de…” – seu rosto ficou triste e angustiado.

“De Renesmee? Isso mesmo filho, de sua mãe! E foi por ela que te chamei aqui”

“Me desculpe, mas não posso falar sobre ela.” – disse simplesmente.

“Como não? Porque não? Preciso de sua ajuda meu filho, para traze-la de volta”

“Pai” – era a primeira vez que o ouvia me chamar assim. – “Não entende que não posso?” – sua expressão era de lamento.

“É claro que pode meu filho, estou aqui pra te ajudar” – me olhou angustiado como quem pede desculpas.

“Será que não entende que só faço mal a ela?” – o peso daquelas palavras caíram em mim como uma bomba. Como ele podia crer nisso? Me aproximei de Adan.

“Olhe nos meus olhos filho”. – levantei seu queixo até nossos olhos se encontrarem.

“tudo o que sua mãe fez, foi por amor a Você! Nessie te desejou muito, mesmo antes de saber se seria capaz de engravidar. Presenciei incontáveis noites que ela não dormiu pensando, sonhando em ser mãe, e chorava
por que achava que seria impossível pra ela.” – respirei fundo com a amargura daquelas lembranças e continuei a falar – “Filho, você é o nosso milagre e o único e verdadeiro desejo de sua mãe foi te proteger e te oferecer seu amor incondicional”.

“Mas pai! Tudo deu errado, ela foi embora, sofreu por isso e depois quase morreu”. – sua vos falhou na última parte.

“Adan, entenda, se não fosse por você sua mãe não teria sobrevivido a batalha com a Jane e hoje não estaria mais entre nós”. – a intensidade daquela verdade me deixou meio tonto de medo – “ E sua mãe nos deixou, por ter interpretado mal os acontecimentos, o tempo inteiro ela quis protege-lo, assim como sua avó fez quando Nessie nasceu. Tivemos medo por ela, mas nunca pensamos em interromper sua gravidez como ela imaginou. Foi um equivoco meu filho”.

“Mas…”

“Não diga nada. Escuta filho, sei que está protegendo Renesmee, mas acredite, não é negando a ela sua existência que a protegerá”.

“Ela quase morreu para me trazer ao mundo pai, pelo menos agora está segura e nem mesmo eu poderei machuca-la”.

“É isso que preciso que entenda! Adan você já nasceu forte e saldável graças a sua mãe, e acredite em mim quando eu digo que o que ela mais quer é poder te alimentar e aconchega-lo em seus braços”.

“Não quero mais fazer mal a ela pai”. – sua voz embargada pelas lágrimas que ameaçavam a cair, despertava em mim um sentimento de proteção, queria com todas as minhas forçar livrar meu filho daquela angústia sem sentido, eu podia sentir o sofrimento dele e faria qualquer coisa para livrá-lo disso.

“Diga as palavras Adan – Mãe! Minha Mãe! – traga-a de volta e prometo que farei o impossível para proteger os dois”. – e com essas palavras o envolvi em meus braços protetoramente e tudo se apagou diante de nós.